No atual mercado brasileiro de quadrinhos, é comum vermos republicações de materiais diversos e de diferentes épocas. A Marvel Comics atende por boa parte dessa fatia de republicações, de forma que é fácil compor uma biblioteca variada com encadernados nacionais. No entanto, há várias fases espetaculares de grandes heróis da Marvel que ainda não deram as caras por aqui recentemente. A seguir, selecionamos 15 títulos que agradariam os colecionadores brasileiros fãs da Casa das Ideias.
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Capitão América por Mark Waid

Mark Waid, junto do prolífico desenhista Ron Garney, construiu uma das melhores fases do Capitão América durante o final dos anos 90. Waid substituiu o roteirista Mark Gruenwald, responsável pelo Capitão há anos, em um período bem complicado para o personagem: Steve Rogers havia morrido devido à perda do Soro do Supersoldado, e era missão de Waid trazê-lo de volta. Para isso, o escritor resgatou a antiga parceira do Capitão, a Agente 13, Sharon Carter, e fez o herói lutar ao lado do Caveira Vermelha. A fase foi interrompida pela iniciativa Heróis Renascem, quando o Capitão sofreu um reboot e ficou a cargo de Rob Liefield. Waid se recusou a continuar escrevendo a revista, e só voltou um ano depois, quando o malfadado projeto foi cancelado. Com 43 edições, o run foi publicada aqui em Marvel 1998, Marvel 2000 e Grandes Heróis Marvel, pela Abril, além de ter ganhado um encadernado com as 10 primeiras edições de Waid e Garney, lançado pela Panini em 2009.
Homem-Aranha por Roger Stern

Um dos mais subestimados roteiristas de sua época, Roger Stern foi responsável por uma bem-sucedida fase das revistas do Homem-Aranha no início dos anos 80, que conta com aproximadamente 45 edições dos dois títulos do herói na época. Além do clássico e emocionante one-shot “O Garoto que Colecionava Homem-Aranha”, o escritor criou um novo duende para antagonizar o Teioso, o Duende Macabro, cuja identidade se tornou um grande mistério que ele não conseguiu revelar durante seu run. Anos depois, Stern voltaria ao Aranha para deixar as coisas como ele havia planejado para o vilão. Dentre os artistas que trabalharam com ele, destaca-se a participação de John Romita Jr., que continuava o legado de seu pai como desenhista do personagem e que co-criou o Duende Macabro. Stern entendeu o que fazia as histórias do personagem ficarem interessantes, resgatando vários conceitos do run de Stan Lee. A fase saiu completa no Brasil apenas pela editora Abril, na revista própria do Aranha.
Doutor Estranho por Steve Englehart

Steve Ditko e Stan Lee já haviam criado uma vasta e interessante mitologia para o Dr. Estranho nos anos 60, consolidando uma legião de fãs das HQs psicodélicas do Mago Supremo. Steve Englehart assumiu o segundo volume da revista do personagem, logo após escrever uma história polêmica do Doutor envolvendo temas religiosos em duas edições de Marvel Premiere. Englehart admitiu que utilizava drogas para criar as histórias, o que as deixava tão loucas quanto às clássicas de Ditko. O hábito não era exclusivo do escritor, visto que vários outros artistas dos anos 70 faziam o mesmo. A arte de Frank Brunner e Gene Colan é uma atração à parte, indo da característica psicodélica até a traços de terror, especialidade de Colan. Contando com cerca de 20 edições, a aclamada fase saiu por aqui em Superaventuras Marvel, da Abril, e parte dela deve ser relançada pela Coleção de Graphic Novels da Salvat ainda este ano.
Vingadores por Kurt Busiek

A fase de Kurt Busiek nos Vingadores fez parte da tentativa de retorno da Marvel após o fracasso de Heróis Renascem e sua falência no final dos anos 90. Junto de George Pérez, que o acompanhou como desenhista por boa parte do run, Busiek utilizou de seu conhecimento de quadrinhos para trazer os Vingadores de volta como uma importante equipe do Universo Marvel. Utilizando os principais heróis que fizeram a história do time e os vilões mais icônicos e ameaçadores (principalmente Ultron e Kang, o Conquistador), Busiek conseguiu dar novamente relevância aos Vingadores, abrindo caminho para o grande ápice de popularidade da equipe em Novos Vingadores, de Brian Michael Bendis. Com mais de 50 edições, entre números da série regular, anuais e minisséries, a fase foi publicada originalmente em Grandes Heróis Marvel, da editora Abril, além do arco Ultron Unlimited ter sido publicado na Coleção Heróis Mais Poderosos da Marvel, da Salvat.
X-Factor por Peter David

Peter David é conhecido por conseguir escrever grandes fases de personagens, mantendo de forma estável a qualidade do título. Já tendo escrito um longo run do segundo volume de X-Factor nos anos 90, David voltou à revista em 2005, reformulando o conceito do time e transformando-o em uma equipe investigativa, liderada por Jamie Madrox, o Homem Múltiplo. A capacidade de David de compor personagens extremamente carismáticos junto ao clima noir da HQ fez dela uma das melhores e mais adoradas versões do X-Factor, e também um respiro de novidade dentro da linha mutante. Contando com aproximadamente 60 edições, a série foi publicada originalmente no Brasil em Wolverine, X-Men e X-Men Extra, todas da Panini.
Alias por Brian Michael Bendis

(colaboração de Jonathan Nunes)
A aparição de Jessica Jones nos quadrinhos pode ser até uma interessante curva no modo como as HQs eram contadas, mas com certeza foi um divisor de águas maior ainda para a carreira de seus autores. Os roteiros recheados de intrigas e segredos envolvendo os bastidores do mundo dos super-heróis criados por Bendis, somados ao traço intuitivo e inspirado de Gaydos, fizeram da revista uma das tramas mais envolventes já produzidas pela Marvel em toda sua história. Porém, apesar dos elogios de crítica e público, Jessica Jones e sua agência de investigações tiveram apenas 28 edições publicadas nos EUA. No Brasil, a Panini publicou Alias até a edição #23 na revista Marvel Max (entre 2003 e 2005) e completou a publicação em Marvel Max Especial nº1 (2005), que apresenta as cinco edições finais da HQ com o arco Bruma Púrpura, que também foi usado como inspiração para a série protagonizada por Jessica Jones na Netflix. A Panini republicou o primeiro arco num encadernado em 2010.
Demolidor por Ann Nocenti

Depois da revolução causada por Frank Miller no título do Demolidor, havia a pergunta se alguém conseguiria alcançar o nível de qualidade do escritor com o personagem. A roteirista Ann Nocenti, apesar de pouco lembrada, conseguiu chegar perto, explorando o universo do personagem com sucesso, inclusive adicionando novos coadjuvantes icônicos, como a vilã de dupla personalidade Mary Tyfoid. Focando no lado humano e no papel do Demolidor dentro da comunidade da Cozinha do Inferno, além de desenvolver os personagens a um nível psicológico intenso, Nocenti lida com o herói com maestria. Além disso, foi nesse período que John Romita Jr. começou a estilizar cada vez mais sua arte, desenvolvendo o estilo característico que conhecemos hoje. Sem dúvida uma fase que merece ganhar mais destaque. O run foi publicado no Brasil somente pela editora Abril, dentro da revista Superaventuras Marvel.
Pantera Negra por Christopher Priest

Outro título responsável por reviver a Marvel depois de sua falência, o Pantera Negra de Christopher Priest se tornou uma referência para tudo o que se faria com o personagem depois. Priest deu ao Pantera uma abordagem diferente de tudo o que já se havia feito com o rei de Wakanda, transformando-o em uma evolução da versão original de Lee e Kirby: um herói extremamente tático, que pensa muitos passos à frente de todos, forte, ágil, calado e inteligente. Para contrabalancear com ele, Priest utilizou Everett K. Ross, um agente do governo americano responsável por escoltar diplomatas estrangeiros. Ross era o narrador e alívio cômico da maioria das histórias, responsável por contrastar com o Pantera e dar destaque a sua personalidade. A fase permanece inédita no Brasil.
Quarteto Fantástico por John Byrne

Após atingir o seu auge no período da equipe Lee-Kirby, o Quarteto Fantástico não conseguia ser tão popular quanto havia sido. Até que John Byrne assume os roteiros e a arte da revista no início dos anos 80 e traz novamente a família fundamental de volta ao topo. Byrne, muito influenciado pela narrativa de Kirby, construiu histórias épicas de exploração em que a equipe passava por todos os cenários imagináveis, interagindo com boa parte de sua galeria de vilões e coadjuvantes. Tudo isso ilustrado com cenas minuciosamente detalhadas e com personagens perfeitamente caracterizados. O artista ainda trouxe algumas novidades, como a substituição do Coisa pela Mulher-Hulk. A maioria das mais de 70 edições que compõem a fase foi publicada no Brasil pela editora Abril dentro da revista do Homem-Aranha. Parte dela foi republicada pela Panini em quatro encadernados de Maiores Clássicos do Quarteto Fantástico, entre 2005 e 2008.
Inumanos por Paul Jenkins

Entre os novos títulos que compunham o selo Marvel Knights no final dos anos 90, um dos mais notáveis foi a minissérie em 12 edições dos Inumanos, escrita por Paul Jenkins e desenhada por Jae Lee. Jenkins consegue dar importância e, ao mesmo tempo, modernizar os Inumanos, que não recebiam grande destaque no Universo Marvel há anos. Através de uma trama simples envolvendo o irmão louco do monarca inumano Raio Negro, Maxímus, em mais uma tentativa de dominar a cidade de Attilan, além de apresentar todo o conceito da terrígenese e a maneira como se organiza a Sociedade Inumana, a minissérie serve tanto como porta de entrada para o universo dos peculiares heróis como um novo sopro de vida para a franquia. No Brasil, a HQ saiu apenas pela Mythos, em formato minissérie, com 4 edições.
Hulk por Peter David

Peter David ficou 11 anos responsável pela revista do Hulk, com mais de 140 edições entre a série principal, anuais, minisséries e one-shots. Com seu estilo de escrita irreverente e que pouco se leva a sério, David desenvolveu toda uma nova mitologia para o Hulk, criando conceitos que hoje são inerentes ao personagem. Entre eles, destaque para o problema de múltiplas personalidades de Banner, com as várias metamorfoses do Hulk, como o Sr. Tira Teima (Hulk cinza) e o Hulk inteligente. Durante a longa fase, vários artistas acompanharam o escritor, entre eles os astros Todd McFarlane, Dale Keown e Gary Frank, todos ainda em início de carreira. A Abril publicou o run na revista própria do Hulk e a Panini começou a republicar duas vezes, sem ter finalizado nenhuma: primeiro em um encadernado de Maiores Clássicos do Incrível Hulk com o início da fase, em 2008, e em outros três encadernados em 2014, com as 17 primeiras edições e a minissérie Futuro Imperfeito.
Wolverine por Larry Hama

Os anos 80 e 90 foram o auge para os mutantes, principalmente para o Wolverine. Depois de passar pelas mãos de mestres como Frank Miller, Chris Claremont, John Buscema e John Byrne, foi com o roteirista Larry Hama e com o desenhista Marc Silvestri que o Carcaju alcançou sua melhor fase. Os conhecimentos de guerra de Hama conseguiam dar veracidade aos fortes roteiros, e o desenho estilizado de Silvestri, com muita hachura, combinavam com as cenas de ação violentas. O roteirista se destacou por conseguir mesclar bons roteiros com doses altas de ação, além de conseguir lidar bem com as constantes mudanças pelas quais o personagem passava nas sagas dos X-Men. Apesar de Silvestri não ter ficado tanto tempo no título, Hama escreveu mais de oitenta edições de Wolverine, além de minisséries e histórias curtas. A fase foi publicada aqui pela Abril, na revista própria do Wolverine.
Thor por Walter Simonson

A revista do Thor foi uma das mais prolíficas em criatividade da dupla Lee e Kirby durante os anos 60, quando cada edição era um épico em si. Somente na década de 80 que Thor voltou ao seu auge, agora nas mãos de Walter Simonson, que roteirizou e desenhou aproximadamente 45 edições do título. Simonson trouxe elementos obscuros da mitologia nórdica, desenvolveu tramas longas e épicas e criou personagens que se tornariam clássicos no universo do Thor, como Bill Raio Beta e Malekith. O artista compreendia o herói como poucos, dando-lhe a grandiosidade que merecia e lhe cabia, tanto nas narrativas quanto na arte, que trazia traços de Kirby em seus melhores momentos. A visão única de Simonson para os cenários cósmicos, para Asgard e para os deuses e monstros míticos fizeram dele um dos mais lembrados artistas dos quadrinhos dos anos 80. A fase saiu no Brasil primeiro em Heróis da TV e Superaventuras Marvel, da Abril, e depois foi relançada na íntegra pela Panini, em 5 encadernados de Maiores Clássicos do Poderoso Thor, entre 2006 e 2012.
Justiceiro MAX por Garth Ennis

(colaboração de Jonathan Nunes)
Em uma fase em que as histórias de Frank Castle estavam sofrendo com as críticas e as baixas vendas, Garth Ennis assumiu a difícil tarefa de reinventar o personagem em uma nova série mensal. Porém, mais do que isso o autor transformou o Justiceiro num sucesso de vendas e um dos mais importantes personagens do universo Marvel. Com o título exclusivo para o público adulto, Ennis não precisou conter suas ideias, e fez de Frank Castle um personagem sanguinário ao extremo, recheando as páginas da HQ com um humor negro bastante característico do autor, arrancando Frank do mundo dos super-heróis e jogando ele de volta ao lugar de onde nunca deveria ter saído: as ruas. Ao colocá-lo enfrentando mafiosos, gangues e contrabandistas, o autor focou muito mais na personalidade e nos desafios do dia a dia de Frank, do que em sua contraparte heroica. Muitos desenhistas passaram pelo título ao decorrer da longa fase de Ennis, mas vale destacar a passagem de Steve Dillon, um dos principais responsáveis pelo sucesso do personagem. Ennis ficou no título entre as edições #01 a #60 e ainda foi responsável pelas especiais Punisher Born e The End, The Cell, The Tyger e Barracuda. No Brasil a fase de Ennis foi publicada principalmente na revista Marvel Max e em diversas edições especiais ao longo dos anos.
Cavaleiro da Lua por Doug Moench

Doug Moench provavelmente é o escritor que mais escreveu títulos obscuros da Marvel entre os anos 70 e 80. Nas páginas de Werewolf by Night, Moench apresentou Marc Spector, um mercenário que foi ressuscitado pelo deus egípcio da lua, Khonshu, após ser assassinado em uma missão. Spector decidiu voltar a Nova York e assumir outras três identidades: o milionário Steven Grant, o taxista Jake Lockley e o vigilante mascarado Cavaleiro da Lua. A fase do escritor na revista própria durou cerca de 31 edições, em que Moench criou um cenário singular para o personagem, que envolvia o crime urbano de Nova York e misticismo, indo dos mafiosos ao vodu. Sienkiewicz, ainda sem o experimentalismo que o marcaria, desenhava com inspiração em Neal Adams, com quadros dinâmicos e um uso espetacular de luz e sombra. A fase foi publicada primeiro pela RGE como Lunar, o Cavaleiro de Prata, em Almanaque Premiere Marvel, depois virando Cavaleiro da Lua na Abril, onde saiu na revista do Capitão América.
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