Esta resenha foi escrita com base no encadernado norte-americano Doctor Strange: The Way of the Weird. O arco é publicado no Brasil pela Panini Comics, desde a primeira edição da revista mensal Doutor Estranho (dezembro de 2016).
Com a chegada da iniciativa All-New, All-Different Marvel, a Marvel Comics lançou, em 2015, uma nova revista titular do Doutor Estranho. Com Jason Aaron nos roteiros e Chris Bachalo nos desenhos e nas cores, o primeiro arco do novo título, que é composto pelas cinco primeiras edições, apresenta uma nova abordagem para o Mago Supremo.
Na história, o Doutor Stephen Strange começa a notar que a presença da magia no nosso mundo não está em equilíbrio. As criaturas de outras dimensões que convivem de maneira invisível no planeta começaram a se comportar de modo estranho, e tudo fica ainda mais esquisito quando uma jovem procura o mago por causa de uma estranha cavidade em sua cabeça. Isso leva o Dr. Estranho a avisar os demais feiticeiros influentes da Terra para se prepararem para enfrentar poderosas e desconhecidas ameaças. Ele só não esperava ter de lidar com uma misteriosa organização interdimensional que almeja dizimar toda a magia presente na Terra.
Jason Aaron constrói um Stephen Strange um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. O Dr. Estranho de Aaron é mais descontraído e gosta de seu trabalho como Mago Supremo da Terra. O arco procura construir um entretenimento mais descompromissado, focado em cenas de ação e de diálogos engraçados. É muito interessante a maneira com que o roteirista apresenta o mundo do feiticeiro, mostrando todas as “estranhezas” da mitologia do personagem. Aaron também aproveita este primeiro momento para fazer com que o leitor conheça melhor Stephen, crie empatia por ele e se importe com o Doutor. Talvez por isso a escolha de fazê-lo menos sério e mostrá-lo se divertindo com as inusitadas situações pelas quais passa com monstros e seres de outras dimensões, de forma que a identificação com um personagem tão sério e misterioso poderia ser mais complicada. A narrativa de Aaron é ágil, intercalando cenas de dois momentos diferentes e contando com alguns flashbacks para explicar situações. Apesar de muitas vezes o autor abusar dos textos nos recordatórios, que contam com uma narração em primeira pessoa de Stephen, o recurso se revela um importante e divertido adendo à história.
Chris Bachalo consegue transpor tudo o que o roteirista pretendia passar com esse novo momento do Doutor. O artista desenha criaturas realmente bizarras, com tentáculos, antenas e olhos por todos os lados. Muitas vezes, é difícil até mesmo saber quando termina o desenho de um monstro e começa o de outro. O artista aproveita as possibilidades de se trabalhar com o personagem. Alguns exemplos são a utilização de enquadramentos diferenciados, como a mescla de quadros nas cenas no Sanctum Sanctorum, e a utilização de splash pages nas cenas de batalha em que pode abusar de criaturas e cenários psicodélicos, que muitas vezes parecem escorrer das páginas. A arte-final, que fica a cargo de vários artistas, conta com um traço bruto, que deixa os desenhos com um estilo mais rústico, sem muita delimitação, o que combina com a temática de magia antiga. Bachalo, que também é responsável pela colorização, utiliza uma paleta de duas a três cores em tons escuros por página. O artista também abusa de listras de cores alternadas, que aparecem geralmente nos vários tentáculos das criaturas que desenha. Apesar de nem sempre conseguir criar uma atmosfera mais psicodélica, que é a marca registrada de várias histórias do personagem. Entretanto, Bachalo acerta mais do que erra e sua colorização imprime um clima de horror nas cenas em que o contexto pede por isso.
Além de apresentar muito bem os conceitos da mitologia do Mago Supremo e sua personalidade, o arco ainda abre as portas para uma história que parece contar com uma ameaça diferente de tudo o que já foi visto nos quadrinhos do Doutor. Com a abordagem mais leve e descompromissada, a HQ se mostra uma excelente oportunidade para novos leitores que se interessem pelo Doutor e também vem matar a vontade dos antigos fãs, que esperavam há tempos por uma nova revista que fizesse jus às fases clássicas do personagem.
Doctor Strange: The Way of the Weird
Roteiro: Jason Aaron
Desenhos e cores: Chris Bachalo
Arte Final: Tim Townsend, Al Vey, Mark Irwin, John Livesay, Wayne Faucher, Victor Olazaba e Jaime Mendoza
Letras: Core Petit
Editora: Marvel Comics
Ano de lançamento: 2016
Páginas: 136
Nota do resenhista: 5 (de 5)